Um dos passos civilizatórios de nosso tempo tem sido a luta pela justa igualdade entre homens e mulheres, com presença feminina cada vez maior nos espaços de poder. Ao aprovar a paridade de gênero nas chapas para as eleições da OAB, o Conselho Federal assumiu esse espírito renovador, mas ainda temos um bom caminho pela frente até o desmonte do machismo estrutural na advocacia.
A OAB de nosso estado, São Paulo, é um exemplo gritante de uma defasagem em relação à realidade que só pode ser explicada pela mesma deformação que mantém as mulheres longe da direção dos grandes escritórios de advocacia do estado. Não há uma única advogada na galeria de fotos dos 27 presidentes da OAB-SP. Elas já chegaram à Procuradoria-Geral da República e à presidência da maior instância do Poder Judiciário, recentemente à Associação dos Advogados de São Paulo (Aasp), mas nunca tiveram uma representante no comando da instância maior da advocacia.
Entrou para os anais da história do STF a descompostura que todos nós, homens de fóruns e tribunais, levamos da ministra Cármen Lúcia na sessão de 10/5/2017. Ao conceder a palavra para a colega Rosa Weber manifestar seu voto, a então presidente da corte citou um levantamento dando conta de que, nos tribunais constitucionais, as ministras são 18 vezes mais interrompidas do que os ministros enquanto falam. Ainda contou o que respondeu a uma ministra da Suprema Corte americana que perguntou como era no Brasil: "Em geral, eu e a ministra Rosa, não nos deixam falar, então nós não somos interrompidas".
Parece piada, mas não é nada divertido quando somos interrompidos tantas vezes nos tribunais. Nós, homens, temos uma revisão a fazer sobre nossas atitudes em relação às colegas de profissão. Quantas vezes, e até sem perceber, interrompemos uma advogada ou promotora só por ser mulher? Elas já são a maioria dos profissionais do Direito em São Paulo, e não há nada engraçado que não possam chegar ao comando dos grandes escritórios ou à presidência da OAB-SP simplesmente por serem mulheres. Ou discursar sem interrupção. Há algo de errado conosco, e esse desencontro com a realidade não é bom para ninguém, nem para elas nem para nós, pois corrompe a representatividade.
Uma parte enorme dos inscritos não votou nas últimas eleições para a OAB-SP. E poucas vezes na história precisamos tanto de uma representação com força para proteger o exercício de nossas prerrogativas. São muitas as ameaças que temos sofrido ao direito de defesa, ao Estado de Direito e às liberdades constitucionais. A nenhum de nós, homens ou mulheres, deveria interessar uma OAB desconectada das bases.
Uma instituição é sempre mais forte quando reflete com harmonia a diversidade daqueles que representa. É por isso que nós, homens da advocacia em São Paulo, também teremos muito a ganhar quando uma mulher chegar à presidência da OAB-SP. Será um sopro de renovação ter como líder uma mulher com capacidade de cuidar da nossa profissão e resistir às forças que testam ao limite o arcabouço das garantias fundamentais ao exercício da Advocacia. Em novembro, teremos eleições para renovar nossa representação. Chegou a hora de incluir a foto de uma mulher na galeria dos presidentes de nossa entidade. É justo, é Direito.